segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Quanto vale um nascimento???

Eu já tinha pensado em falar sobre isso por aqui milhões de vezes. 
Mas sabe aquele desejo que temos de não ferir, de agradar a todos? Pois é...
Eu começava, escrevia algumas linhas, mas acabava deletando.
Só que aí aconteceu uma coisa doida dentro de mim.
Eu percebi que (ohhh!) não tem como agradar a todos o tempo todo. E o melhor caminho acaba sendo o mais óbvio: ser quem agente é, e ter o mínimo de coerência entre o que se pensa, o que se fala e como se age.
Então lá vai.
Esses dias eu acompanhei um parto incrível(logo vem as fotos e o relato).
Essa família quase desistiu. Não por não ter vontade. Não por não ter informação. Não por não ter embasamento...POR NÃO TER DINHEIRO SUFICIENTE!
E ao acompanhar a história dessa família, comecei a refletir sobre a ironia desse mundo da humanização.
Os princípios básicos da humanização do nascimento todo mundo que circula por aqui conhece. O mínimo de intervenções para a mãe e para o bebê,  resgate do protagonismo de ambos no parto, respeito às escolhas da família, posições confortáveis para a mãe parir, enfim...intimidade e respeito.
Levanta-se a bandeira de que todas as mulheres merecem um parto digno, de que todos os bebês merecem um nascimento bacana, de que todo mundo deve buscar isso tudo.
Ok.
Mas me fala uma coisa...quanto isso custa mesmo???
Pouco?Mais ou menos? Muito?

Mais uma pergunta...esse suporte é oferecido pelo SUS?

E outra...qual a parcela da população que pode pagar por isso?

Hã? Como assim? Mas não se espera que os profissionais ditos "humanizados" sejam mais sensibilizados a causas desse tipo?
Pois é.

Gente, deixa eu contar uma coisa.
Antes de ser doula, eu fui gestante, sabe...
E tem todo tipo de gestante. 
E para algumas, talvez por falta de informação, não faz a menor diferença a maneira que o seu filho virá ao mundo. 
Para outras, ainda, é preferível que se faça logo uma cesariana( seja pelo motivo que for, esse post não está aqui para julgar...pelo menos por enquanto).
Agora sentem aqui e deixem eu contar uma coisa: Vocês fazem ideia do tamanho da frustração de uma mãe que sabe dos benefícios do parto humanizado, quer um parto humanizado, acredita no parto humanizado e...NAO PODE PAGAR???
Como faz, produção?
Diz aí?
Me conta, querida doula, como é mesmo que você acredita na humanização para todos, se você cobra em um acompanhamento uma pequena fortuna?
Me conta aí, querido obstetra, como vamos humanizar o mundo, se o que o senhor cobra dá pra sustentar a criança até os 18 anos???

Sim, minha gente, todos temos contas a pagar. 
Mas assim...honestamente...não lhes parece incoerente que alguém pregue que todos devem ter acesso a um nascimento humanizado e beneficie somente a nata da população?
(daí eu penso...pq não cirurgia plástica? Dermatologia quem sabe? ai ai...)
 E aquela mãe que não pode pagar faz como?

 Se um profissional escolhe livremente, entre um milhão de profissões, uma profissão que luta contra o sistema, como é que esse mesmo profissional vai limitar o atendimento só a quem NÃO PRECISA DO SISTEMA PRA NADA???

Então fico  por aqui, tentando gerar o mínimo de reflexão.
E se fosse com você?
E se fosse o seu filho???
Pensem nisso...


Abraços,
Kika

Um comentário:

  1. Nossa! Parece que tu escutou a minha conversa a minha irmã ainda ontem. Falávamos EXATAMENTE sobre isso enquanto dávamos uma voltinha na redenção com a pequena Laura (minha sobrinha de 1 ano e 1 mês que nasceu de parto humanizado hospitalar). Sabemos que TUDO querer dedicação e e empenho portanto necessita de investimento, mas será que algumas equipes que fazem parto humanizado são HUMANOS ao ponto de realmente se colocar no lugar do outro e refletir sobre esse investimento?

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Obrigado.