quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Maternidade, paternidade e carreira profissional (Blogagem coletiva para o Femmaterna)

Quando soube da blogagem coletiva do Femmaterna, sobre carreira x maternidade, achei que ia ser tranquilo escrever sobre. Só que não.
Comecei e deletei diversas vezes. Umas racionalizando, outras chorando...e foi quando percebi que minhas escolhas ainda doem. 
Admito.
Coloquei minha primeira filha na escolhinha aos 4 meses recém completos.
Não tive escolha(será?).
Eu estudava e era bolsista na universidade, e dependia desse dinheiro para pagar as nossas contas.
Não era o dia todo, eu tentava compensar nos finais de semana, mas se estão se perguntando se "tudo bem", digo prontamente: NAO. Não ficou tudo bem. Não me orgulho. E sim, na segunda e na terceira vez que fui mãe, fiz diferente.
Primeiro queria esclarecer que esse não é um post de julgamento.
Aqui eu estou falando exclusivamente das MINHAS experiências como mãe. Das MINHAS  culpas.
Se pra você foi tranquilo, ok...sem problemas.
Para mim não foi.
Eu sofri muito.
Não posso mensurar o quanto minha filha sofreu, mas se foi perto daquilo que eu senti, foi gigante.
Cada vez que eu tinha que deixar minha menina na escola, era um suplício. Eu chorava litros. Todos os dias, sem parar, sem me acostumar, sem achar que tava tudo certo.
Era meio turno apenas, mas não me perdoo por ter perdido aquele tanto de descobertas que o tempo não me trará de volta.
Sei que minha filha é pequena, sei que ela ainda vai precisar de mim em muitos momentos, sei sei sei.
Mas sei também que quando engravidei pela segunda vez, percebi que tudo o que eu achava que era importante para minha filha(e agora para meus outros filhos também) era fruto de uma cultura capitalista, que empurra mulheres para o mercado de trabalho (quando tudo que elas desejam na vida é lamber suas crias) para consumir, consumir e consumir.
Sei que, para muitas mulheres, isso não se trata de escolha, e sim de sobrevivência.
Sei também que no nosso país, o governo não nos proporciona a possibilidade de estar em casa, de exercemos plenamente nossa maternidade, de amamentar o tempo que gostaríamos, de exercer com dedicação plena o nosso melhor papel.
E para essas mulheres, meu abraço apertado.
Hoje eu mudei a minha vida em prol dos meus 3 filhos.
Ainda na segunda gestação, larguei uma quase completa faculdade de direito, fui tocada por uma vocação que dormia e hoje trabalho como doula.
Adapto meus horarios, junto com meu marido, para que ambos possam se realizar profissionalmente sem delegar nossos filhos a ninguém.

Não é fácil sabe? Ficamos exaustos, acabados, sem tempo para quase nada, mas bem felizes.
Meu marido também aderiu a paternagem, e abandonou uma longa caminhada profissional para ficar mais tempo com a família, redirecionando toda sua vida.
As contas aumentaram, o padrão de vida baixou, mas ganhamos muito.
Digo, sem exitar, que hoje somos ricos.
Riquíssimos, aliás.
Não perdemos um dentinho que nasceu, um passinho que foi dado, uma conquista, uma aflição a ser dividida, nada. 
Conseguimos inclusive, resgatar coisas que tinham ficado pra trás com nossa filha mais velha. Acompanhamos cada momento da vida de nossas crianças.
E isso, PARA A MINHA FAMÍLIA, foi o melhor caminho.
Sugiro que cada um busque o seu, e durma em paz com suas escolhas.
E com seus filhos.
Beijos a todxs...

4 comentários:

  1. Excelente texto!
    Com minha mãe foi o oposto, ela não trabalhava quando eu nasci e ela pode aproveitar todas as fases, inclusive me amamentou até quase 4 anos. Já com meu irmão, ela precisou trabalhar quando ele tinha dois meses e deixava ele com minha avó. Somos adultos e ela ainda se sente culpada por isso, apesar de terem sido circunstâncias muito fora do controle dela, como acontece com a imensa maioria das mulheres aqui no Brasil.
    Pensei em parar de trabalhar onde trabalho quando terminasse a licença-maternidade, mas dois dias antes do Arthur nascer, meu marido foi demitido e não está sendo fácil ele se recolocar no mercado. Então pude visualizar o quanto a minha renda faz diferença na nossa casa, portanto, nada de parar, já que tenho muitos benefícios, apesar das 7h que gasto no trânsito.
    Mesmo sabendo que não será fácil deixá-lo na escolinha sei que somos privilegiados: trabalho 3 vezes por semana, o auxílio-creche cobre quase todo o valor da mensalidade da escolinha que ele vai frequentar, já trabalhei nessa escola e conheço a equipe e o trabalho dela, e o melhor de tudo -- só volto a trabalhar depois q ele fizer um ano. Por isso, toda vez que me dá uma agonia de saber q vou deixá-lo com outras pessoas, lembro que eu sou muito privilegiada e que a maioria das outras mães não têm opções como eu tenho e me sinto menos pior.

    Joyce, mãe do Arthur, de 2 meses e meio

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  2. Pois é Joy...eu não quero julgar sabe? Juro. Eu mesma, junto com minha irmã mais nova, somos frutos de uma família onde os pais trabalhavam o dia todo, por necessidade mesmo. E naquele momento, para aquela mãe, era a única alternativa.
    Mas te digo, quando tive escolha, não pensei duas vezes.
    E hoje, nossa....como agradeço por ter virado aquela esquina, por ter escolhido ficar ao invés de ir!
    Obrigada pelo comentário.
    beijo!

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  3. Mas tb fico pensando. ..quantas mulheres nao tem a tua situação e gostariam de ter?
    Cada caso é um caso.
    Na tua situação penso que tu ter um trabalho é uma baita sorte.
    Bjbj

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  4. oi kika, 'achei' seu blog no femmaterna,e esse é o primeiro post dele que eu li, simplesmente lindo! minha primeira filha nasceu eu tinha 20 anos .Eu e meu marido optamos por eu ficar em casa com ela (pois não tinha vaga em creche, e quem poderia cuidar dela tinha deixado claro que não seria ' do meu jeito' ) E foi a melhor coisa que me aconteceu. Hoje to com 22 e esperando um segundinho, meu marido mudou de emprego e posso optar por ficar em casa. Muitas pessoa me julgam, dizendo que estou jogando minha vida fora, que minhas filhas vão crescer e me deixar, mas penso que nem tudo na vida é dinheiro.Felicidade não é você passar uma imagem de que 'tem tudo' . E assim como você disse eu também posso dizer: Eu e meu marido somos riquíssimos!!!
    bjos

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Obrigado.